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Nossos \"mandarins\"


Em 1968, o animador da “New Left” e então professor de lingüistica no Massachusetts Institute of Technology, Noam Chomsky, proferiu dura crítica contra a ascensão daqueles a quem chamou de “novos mandarins”. Em seu livro American Power and the New Mandarins, ele se refere aos matemáticos, economistas, físicos, sociólogos, cientistas políticos, etc., afirmando que, por conta de sua alta qualificação para gerir de forma eficaz a sociedade pós-industrial, seriam arrogantes, autoritários perigosamente inclinados para a repressão mediantes seus conhecimentos de técnicas de controle social. Além disso, apresentavam “conformismo ideológico” ou “sujeição contra-revolucionária” ao sistema e professavam um pragmatismo próximo do amoralismo, pois se encantonavam “numa política de adaptação que sabia excluir as considerações morais”.
No Brasil temos “novos mandarins”. Não são isentos de arrogância, autoritarismo e alguns deles são perigosamente capazes de controlar comportamentos através de técnicas de propaganda. Mas há uma diferença significativa: nossos “mandarins” não necessitam de qualificação profissional. Agora basta “ter lado”, o que significa ser do PT ou aliado desse partido. Processa-se assim a fusão do poder do Partido com o poder do Estado, sendo que a competência não é mais necessária. No mais, o “mandarinato” brasileiro também apresenta um “pragmatismo” próximo do amoralismo”, especialmente quando se trata de defender seus interesses.
Em entrevista à Folha de S. Paulo (22/09/03), o sociólogo Francisco de Oliveira, um petista histórico, afirmou que a elite do sindicalismo nacional, por conseqüência o grupo dirigente do PT, passou a constituir uma nova classe social ao ocupar posições nos conselhos de administração das principais fontes de recursos para investimento no país: o BNDS (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e os fundos de pensão das empresas estatais. O sociólogo, porém, nega que com isso seus companheiros tenham se aburguesado, “porque não têm a propriedade nem são gestores das empresas privadas”.
Nesse ponto discordo de Oliveira. Creio que ele se baseia ainda na teoria marxista, segundo a qual as classes são definidas a partir das condições da propriedade e dos meios de produção. Mas nas sociedades capitalistas da atualidade, não está “acima” apenas quem detém os meios de produção, mas quem os controla. Portanto, como bem explicou Ralf Dahrendorf, os funcionários estatais das economias dirigidas, como foi a comunista, formavam um classe tão dominante quanto a dos gerentes (“managers”) das sociedades anônimas ocidentais
Francisco Oliveira critica os expoentes do PSDB que viraram “banqueiros”, isso é, “que de alguma maneira entraram no sistema financeiro”, mas admite que seus companheiros “são a mesma coisa e sentem que fazem parte do jogo”. Tudo isso demonstra aos desiludidos idealistas do PT, que não foi o proletariado que chegou ao paraíso, mas os capitalistas de Estado, os “mandarins” que amenizam sua conduta real com propaganda e discursos de faz-de-conta.
Para o sociólogo Oleveira, novos partidos de esquerda com interesses como os que o PT defendeu no passado, não são mais fáceis de se formar e isso demandaria uma tarefa missionária. De fato, não apenas as novas condições mundiais dificultariam o sucesso da empreitada, como o novo mandarinato ou classe dominante tudo fará para impedir que se organizem oposições contra seus interesses. Mas como “tudo que é sólido se desmancha no ar”, quem sabe um dia uma nova oposição se articulará no Brasil. Não de esquerda ou de direita ultrapassadas, mas a que mostrará que prosperidade não se conquista com discursos que pregam a distribuição da riqueza, mas sim com a efetiva produção de riqueza, impossível de ser alcançada com capitalistas de Estado na medida em que apenas a estes mandarins é dado prosperar.

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